quarta-feira, 21 de junho de 2006

O Surf e o resto

Começo a escrever 1 hora antes do início do Portugal - México de hoje. Desde manhã que não se houve outra coisa, as notícias na rádio, os comentários matutinos dos colegas, até as cores que algumas colegas hoje trazem, aludindo claramente à sua repentina devoção patriótica, tudo, mas tudo, passando pelo restaurante habitualmente cheio à 1h da tarde, e que hoje, estranhamente está vazio, seguramente muita gente irá "almoçar" mais tarde... enfim, o jogo de facto domina as atenções e o país parece que vai parar, ou pelo menos abrandar. Pessoalmente, e com muita pena, não poderei ver o jogo, é certo que por razões bem mais importantes que as profissionais, pois vou com a minha filha ao médico. Mas a verdade é que tanto amor patriótico repentino, que nasceu com o Euro e com Scolari, honra lhes seja feita, deveria ser aproveitado para acções que contribuíssem mais para o país do que, simplesmente, beber cerveja e fazer gazeta ao trabalho... com toda esta loucura, com todas as conversa a girar à volta deste tema, eu, durante a hora de almoço, lembrei-me de como seria bom dar um pulo até à praia durante a hora do jogo, para aproveitar a loucura instalada e dar uma surfada descontraída e sem crowd... pois é... depois acordei desse sonho... porque muito provavelmente não haveria tão pouco crowd assim, seguramente haverá alguns loucos, que o são todos os dias, não apenas em dia de jogo, e que frequentemente abandonam as rotinas e os circuitos "normais" para dar azo à sua insanidade e patriotismo surfando as ondas portuguesas. Quando hoje à tarde, vindo dum estranho e profundo silêncio instalado na capital e no país, se ouvir um estridente e sonoro gooooooooolo, eu embarcarei na felicidade colectiva, comemorando os feitos lusitanos, mas ao mesmo tempo, pensarei em ondas e surfistas que não estão a partilhar essa alegria quase geral, porque o mar, no seu imenso poder, lhes absorve os sentidos de toda e qualquer outra sensação, deixando-os entregues a uma alegria muito própria, proporcionada pelo prazer de estar no mar, difícil de descrever, mas nem por isso menos intensa que outras, mesmo quando partilhadas simultaneamente por quase todos!

1 comentário:

SurfistaPrateada disse...

Este texto levou o meu pensamento a um surfista que há dois dias atrás surfou, solitariamente, até de noite umas grande ondas em S. Torpes. Não sei se uma delas foi "a onda" dele, mas a verdade é que houve uma que até a mim, que estava de fora, por respeito aquele "metrão", me despoletou um arrepio durante segundos! A alegria dele no final, como que a agradecer a qualquer coisa de sobrenatural, fez-me pensar agora, que este surfista fará certamente parte daqueles portugueses que gritarão solitariamente outra coisa, para além dos golos que (felizmente) gritámos hoje.
Viva Portugal e Viva o Surf! :)